SOS AMAZÔNIA
Momentos como esse, como o de comoção nacional pela Amazônia, são delicados. Tomar uma posição em favor disso ou daquilo, quando os eventos ocupam as primeiras páginas, pode soar como oportunismo barato. Uma tentativa fútil de surfar a onda do momento só para criar empatia com nosso público.
Só que as queimadas na Amazônia sensibilizam a nós da Terra Flor de várias maneiras e nos impelem a tomar uma posição. Acreditamos que compartilhar um posicionamento firme pode afetar positivamente o coletivo incentivando outros a fazerem o mesmo e a partir daí fazerem escolhas condizentes.
Só vou mencionar duas razões que motivaram nosso posicionamento, apesar de serem inúmeras.
Primeiro porque os incêndios também nos afetam, e nesse sentido a nossa empatia desperta. Estamos em Alto Paraíso, cercados pelo Cerrado que também queima nessa época, afetando negativamente em vários sentidos a nossa vida, a da flora e da fauna da região. Sabemos que nessa época do ano as queimadas são frequentes e que raramente acontecem de forma espontânea. Os raios que provocam incêndios naturais só vão acontecer à partir da segunda quinzena de setembro ou entrando outubro, quando a chuva prenuncia sua chegada. A mão do homem tem responsabilidade pelas queimadas que acontecem agora. Por isso qualquer tipo de afrouxamento na fiscalização é uma péssima ideia.
Segundo porque a Terra Flor tem valores. De nada adianta tê-los se não os vocalizamos de alguma forma quando estes são agredidos.
Existe um princípio que entendo estar sendo ignorado exatamente agora junto com a floresta. O da diversidade como um bem a ser preservado sempre.
O que mantém a vida não é a capacidade do mais forte se sobrepor ao mais fraco, de um animal se impor sobre o outro ou de uma cultura se impor sobre a variedade da floresta. O que mantém a vida é a capacidade da própria vida em se manifestar da forma mais variada possível, com cooperação. E por isso a Amazônia deve ser mantida em sua máxima extensão de área, pois é o exemplo perfeito da capacidade da vida se manter em sua abundância e potência máxima. É um recurso a ser usufruído com sabedoria, mas também um exemplo vivo para ser estudado, e quem sabe um dia mudarmos nossa perspectiva sobre a realidade.
Os caminhos de organização da vida dentro da floresta talvez sejam o verdadeiro tesouro a ser preservado, um exemplo a ser observado se quisermos preservar a vida em todos os outros ecossistemas.
Parece que estamos longe de perceber esse valor, mas infelizmente não temos o tempo a nosso favor, e as escolhas precisam ser feitas agora.
Texto por Vistar Pinheiro – Sócio-diretor, co-fundador da Terra Flor Aromaterapia.
Imagem por Bruno Kelly/Reuters